Saudades



Gilmar acordou às 4h no susto, cinco minutos antes do despertador tocar, mas parecia que acabara de se deitar. A rotina estava puxada. Era garçom num restaurante na Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro.


A jornada começava cedo, com o café da manhã e se encerrava após o jantar. As horas extras eram constantes. Diante da falta de funcionários, ele se oferecia na tentativa de engordar o parco salário. Para isso, carregava a bandeja pelo salão o dia todo, sempre com sorriso no rosto, apesar do uniforme quente e o calor carioca de 40 graus.

Os clientes impacientes exigiam sua atenção e rapidez nos pedidos. O gerente, constantemente mau humorado e com cara de poucos amigos, vivia no seu "pé". Poucos eram os que retribuíam a simpatia, não entendia.

Aprendera desde cedo a tratar às pessoas bem. Em sua terra, aliás, isso era comum.

Lembrando de sua pequena cidade no sertão de Pernambuco, recordou com saudades dos seus que lá ficaram. Há longos quatro anos deixou mãe, mulher e filhos em busca de uma vida melhor para todos.

Na mala velha e surrada, trouxe para o Rio de Janeiro muita esperança e otimismo. Mas dia após dia de trabalho intenso e noites com poucas horas de sono esse desenho parecia mais distante e sem sentido. Já não pensava mais em "enricar", pensava em voltar para os braços da família.

Foi nesse momento que as prioridades mudaram. Gilmar passou a cogitar deixar para trás o gerente mau humorado com os clientes que só sabiam reclamar, o salário mínimo que com a gorjeta mal dava pra pagar o pequeno quarto alugado no subúrbio da cidade e voltar para sua terra.

Já não importava uma vida melhor, mais dinheiro ou patrimônio, mas sim uma vida feliz. Nessa sintonia saiu para mais um dia de trabalho. Sonhando com o dia que voltaria para casa.



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